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Talentos do Bairro

Cantam, dançam e vêm do bairro com orgulho

Na final do concurso Talentos do Bairro, a 8 de dezembro, no Capitólio, em Lisboa, só haverá um vencedor entre 13 finalistas, no entanto, já todos ganharam: uma oportunidade justa para seguir o sonho.


Publicado a 4 de Dezembro de 2024 às 15:14

Cantam, dançam e vêm do bairro com orgulho

O concurso Talentos do Bairro, uma iniciativa Gebalis em parceria com a Medialivre, foi uma verdadeira chuva de estrelas nos bairros municipais de Lisboa. Foram 13 os talentos escolhidos em quatro pré-eliminatórias, com o canto e a dança a predominarem.

Atraiu candidatos de todas as idades e uniu residentes dos bairros que marcaram presença nos palcos das quatro pré-eliminatórias: a 9 de novembro no Auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro (Telheiras); a 17 de novembro no Centro Cultural de Carnide, e a 23 e 24 de novembro na Escola Secundária D. Dinis (Marvila).

Agora, antes da grande final, que decorrerá no Capitólio, a 8 de dezembro, mostramos ao País quem são os magníficos 13 finalistas.

As Besties Together “são duas teenagers a cantar pop”, como as descreve Johnny Sommar, artista a residir entre Lisboa e Londres, pai de Beyonda e agente das duas pequenas cantoras. Beyonda Sommar e Sofia Amaral “começaram a cantar no infantário”. “A Beyonda canta desde bebé porque eu também sou cantor. E também dança ballet e toca piano e guitarra. Está exposta ao facto de o pai ser ator, modelo e músico.”

Na banda Besties Together, que foi formada com esse nome para poderem concorrer ao Talentos do Bairro, Beyonda canta e toca guitarra e piano, e Sofia acompanha-a e também escreve letras.

“Elas cantaram lindamente uma canção de Fernando Daniel com muita emoção e química entre as duas. Estamos sempre a fazer treinos em casa”, conta Johnny Sommar. “São muito positivas e alegres no que cantam e muito aplicadas na escola. São fantásticas!” Foi a primeira vez que participaram num concurso de talentos, mas já fizeram apresentações na escola por duas vezes. Para onde irá o prémio da final, se ganharem? “Será encaminhado para elas, numa conta à parte. Vão poder usá-lo no seu futuro.”

Johnny, que já teve o prazer de atuar no MEO Arena, sonha para as Besties com “o lugar mais alto, ali no Coliseu”.

Francisco Jesus, 36 anos, escreve letras e música desde os 11 anos, a idade com que gravou a primeira canção, um rap intitulado “Sem Abrigo”.

Com o nome artístico de Don Fran, o rapper tem lutado sempre para continuar a fazer música. “Para mim, que venho de um bairro social e sinto que tenho talento na escrita e na música, é difícil realizar o sonho sem ajuda. Neste momento, tenho três trabalhos, entre eles treinar crianças dos 5 aos 11 anos na Academia do Johnson.” É o que lhe permite investir na música. “Tenho uma filha de 8 anos que também adora música e que já toca bateria. Quando não estou a trabalhar, estou na música.”

O Talentos do Bairro foi o primeiro concurso de talentos em que entrou. Foi um dos três vencedores na primeira pré-eliminatória com o voto do júri. O seu sonho? “Ouvir a minha música a tocar na rádio. E tocar em palcos de festivais como o MEO Sudoeste, o Kalorama, o Vodafone Paredes de Coura ou mesmo o Rock in Rio.”

Barbeiro de profissão. André Pinto, aka G-Cash (o seu nome como rapper), começou a rimar e a fazer batidas aos 9 anos, em casa, e atuava para os amigos. “Praticamos num estúdio no centro comunitário do bairro da Quinta Grande”, conta.

“Esta foi a primeira vez que concorri a um talent show. Soube do Talentos do Bairro pelos cartazes afixados no bairro. Ser um dos finalistas foi uma honra e um orgulho muito grande”, diz G-Cash, que venceu na 1ª pré-eliminatória com o voto do júri.

Se ganhar a final no Capitólio, dia 8 de dezembro, vai apoiar a família — tem dois filhos pequenos — e investir na música. O maior sonho: “Gostava de editar um álbum. E atuar no Rock in Rio, ou no MEO Arena”.

Um cartaz a anunciar o concurso Talentos do Bairro no bairro Casalinho da Ajuda, foi quanto bastou para atrair Madalena Silva, de 16 anos, a ir ao site da iniciativa da Gebalis em parceria com a Medialivre e inscrever-se. “Canto desde criança”, conta Madalena, estudante no 10º ano, em Artes.

“Estava muito nervosa quando entrei em palco na pré-eliminatória” que decorreu no Centro Cultural de Carnide, no dia 17 de novembro. Foi selecionada com o voto do júri. A família tem sido a grande claque de Madalena. “A minha família apoia-me muito e incentivou-me a ir.”

Há várias cantoras portuguesas que admira. “Gosto muito da Soraia Ramos e da Yasmine Carvalho.” O seu maior sonho, de momento, é “concorrer no The Voice Portugal”. Quem sabe a atuação no Capitólio vem ajudar.

Jair Barreto, 42 anos, trabalha nas entregas para lojas, mas é quando veste a pele do rapper Jair MC que se sente ele próprio. “O gosto pela música surgiu quando eu tinha 8 anos, o meu irmão mais velho já rimava a fazer rap e motivou-me”, conta.

“Infelizmente não consigo viver da música. Faço entregas para lojas, tenho uma filha de 8 anos.” Quando começou nas rimas e batidas do rap, nos anos 90 do século passado, foi com “influência dos rappers americanos”.

Jair MC entrou no Talentos do Bairro porque foi desafiado “para representar o bairro Padre Cruz, ninguém queria ir em frente e concorrer”. Acabou selecionado pelo voto do júri. Se ganhar o grande prémio da final (1500 euros), “vou usá-lo para dar mais conforto à minha filha e a mim”. O seu palco de sonho: “Seria marcante pisar o palco do Coliseu.”

Quando canta e toca o seu violoncelo, Miriam está no seu elemento: a música. Trabalha em hotelaria. “Quando entrei para a Orquestra Geração, já tinha formação musical. Sempre gostei de cantar, mas era mais para a família.” Residente no Bairro da Boavista, venceu com este concurso o seu maior medo: o palco. “A primeira vez que pisei um palco foi na pré-eliminatória do Talentos do Bairro. Estava muito nervosa. Mas como puxaram por mim, lá fui.” Foi escolhida com o voto do público.

E se ganhar a final no Capitólio ? “Dava 500 euros ao estúdio, 200 euros ao pianista que me acompanhou e eu ficava com o resto.” “Vou investir no meu futuro, quero ser cantora profissional”, afirma, decidida, a jovem que admira cantoras como Bárbara Bandeira, Sara Carreira, Carolina Deslandes, Yasmine Carvalho e Soraia Ramos. O seu palco de sonho é o Coliseu.

O Projeto Dança, inscrito no Talentos do Bairro pelo bairro da Bela Vista, integra 12 dançarinas, com idades entre os 11 e os 20 anos, e que fundem a dança clássica com a contemporânea e a dança criativa, como explicou a porta-voz Ana Rodrigues, professora de dança e coreógrafa.

O Projeto Dança foi apurado com o voto do público na 3ª eliminatória do Talentos do Bairro, a 23 de novembro, na Escola Secundária D. Dinis, em Marvila. A professora Ana estava muito orgulhosa das suas pupilas, muitas das quais treina desde os 3 anos: “Dei uma ajuda na coreografia, mas tem muito da parte criativa delas também.”

As dançarinas ensaiam num espaço cedido pela Junta de Freguesia do Beato, na Escola Pezinho de Dança. “O Projeto Dança aparece sempre que precisam de se apresentar em grupo. Têm sempre pelo menos dois espetáculos anuais e são um elemento fixo há muitos anos na gala do Convento do Beato.”

Para já, foram selecionadas na pré-eliminatória de 23 de novembro. Com o valor do prémio, 500 euros, querem investir em material, equipamento de som. “Ir à final no Capitólio é o grande objetivo. Atuar ali já é muito bom para elas”, conclui Ana Rodrigues.

Márcio, de 29 anos, entoou um cover de Hozier, “Take me To Church”, na 3ª pré-eliminatória do Talentos do Bairro, na Escola Secundária D. Dinis e foi apurado com o voto do júri. Membro da banda The Leeway’s, atuou sem o seu colega guitarrista, Ângelo, que não pôde comparecer (e ainda contam com dois técnicos de som, Rui e João).

“A banda surgiu há três ou quatro anos. Eu gravava vídeos no Instagram a cantar e o Ângelo desafiou-me a formarmos uma banda.” “The Leeway’s é um cruzamento entre o pop e o rock, eu sou mais do pop, o Ângelo mais do rock. No início a minha referência era a Beyoncé, mais recentemente Ariana Grande e o Sam Smith.” Os quatro membros da banda têm os seus empregos, mas o sonho é viverem da música.

A ida ao concurso Talentos do Bairro surgiu através do antigo ATL da Santa Casa, do centro de promoção social da PRODAC, conta Márcio. “Já tínhamos atuado em eventos particulares por convites da PRODAC. Mas esta é a primeira vez que vamos pisar um palco importante como o Capitólio no dia 8 de dezembro”. Com o cheque de 500 euros que ganharam na pré-eliminatória vão “investir em equipamento” e depois, quem sabe, “criar canções originais”. O palco de sonho é o MEO Arena.

O júri da 3ª pré-eliminatória do Talentos do Bairro ficou rendido à energia em palco das duas meninas, Letícia, 10 anos, e Lia, de 12, que formam o grupo de dança L&L Groove. “Elas dançam hip-hop, street dance, pop e afro”, conta Raquel, mãe de Letícia, porta-voz do grupo. “Conheceram-se através da mesma escola de dança, a Jazzy”. A dupla L&L Groove foi criada para concorrer ao Talentos do Bairro porque “antes elas dançavam juntas para fazer vídeos de TikTok, nos intervalos das aulas, etc.”.

Acabaram “selecionadas na terceira pré-eliminatória, o que foi uma grande alegria, ainda nem acreditam”. Agora “estão superentusiasmadas com a ida ao Capitólio, até estão na dúvida se levam uma coreografia nova ou a mesma porque tiveram sucesso”. O Talentos do Bairro permitiu às duas dançarinas e à família sonhar. “Não tínhamos a noção da dimensão disto e das oportunidades que pode trazer”, afirma Raquel. “Seria mesmo um grande feito elas vencerem a final.”

A jovem Inês sentiu desde pequena o dom para o género que mais representa a alma portuguesa, o fado. “Canto fado desde os 5 anos. A minha irmã e o meu avô também cantam fado”, conta Inês Coito.

A sua madrinha no fado é a Sara Correia, que cantou com orgulho o famoso fado “Chelas”, o bairro de onde vem. “Eu era muito pequenina quando cantava com a Sara na mesma escola de fado. Tenho muito orgulho no que ela realizou e no grande exemplo que é.” Uma tia de Inês inscreveu-a no Talentos do Bairro, e ela foi escolhida para a final, o que foi “uma excelente surpresa”. “Ainda não me caiu a ficha, o Capitólio é um espaço que mete medo, é uma honra poder cantar ali.”

Inês Coito está no 2º ano do curso superior de Psicologia e canta todas as noites numa casa de fados em Alfama. Para ela não há palcos de sonho: “O que importa é quem me rodeia, o ambiente, e o que consigo transmitir.”

O projeto de juntar oito jovens, dos 13 aos 22 anos, num grupo que combina dança e teatro e algum canto partiu de Rafael Barreto, diretor do grupo Born2Fail. “Somos bailarinos e também introduzimos teatro nas nossas atuações”, conta a porta-voz do grupo, Rafaela, sobrinha do diretor, que é também responsável pelas coreografias. Rafael Barreto tem uma companhia artística, a Lugar Comum. A ideia de criar o grupo Born2Fail surgiu depois da participação destes oito jovens no festival Panos do Dona Maria II em 2019.

“Os meninos mais novos do grupo já tinham participado num outro festival organizado pela Gebalis, o Maria Vai, e também ganharam. Quase todos estão no curso de teatro, o mais velho está em Dança no ensino superior”, conta Rafaela.

O Capitólio já é uma sala conhecida do grupo: “Já conhecemos, estivemos lá a gravar o videoclipe da Soraia Tavares ‘A Culpa é da Lua’, tem uma boa acústica.” “Ganhar a final é o nosso objetivo.” O palco de sonho onde um dia gostariam de atuar? “O maior de todos”, responde Rafaela, entre risos.

A mãe de Tiago e Leonardo, Anastácia Carvalho, desvenda o mistério em torno do nome do trio de música clássica e de fusão composto pelos seus filhos Tiago, de 12 anos, e Leonardo, de 14, e pelo amigo de ambos Rodrigo Gonçalves, de 15 anos. “Do CN quer dizer do Conservatório Nacional.” Os três estudantes de Música do Conservatório formaram o grupo para poderem participar no concurso Talentos do Bairro, da Gebalis. “Soubemos do Talentos do Bairro porque o Ricardo, da Gebalis, contactou-nos a incentivar os meus filhos a participar, porque eles já tinham ido a um outro concurso organizado pela empresa municipal de Lisboa, o Maria Vai, no ano passado.”

Os irmãos entraram no Maria Vai como dupla, e o amigo Rodrigo foi a solo. “Ganharam nesse concurso e este ano decidiram fazer o grupo para o Talentos do Bairro”, conta Anastácia, orgulhosa da prole, ela que é cantora e maestrina num grupo coral. “O pai deles também é músico, por isso, o contacto deles com a música é desde a barriga.”

Leonardo estuda trombone, mas é multi-instrumentista e no grupo tocou guitarra, o Tiago está a estudar viola de arco e é o que toca no grupo, e Rodrigo também toca desde criança, estuda e toca guitarra no grupo. Já estão habituados ao público, fizeram parte da Orquestra Geração, da Gerajazz, mas vão pela primeira vez atuar no Capitólio. “Espero que levem o talento deles por vários palcos de Portugal e do mundo e que sirvam de inspiração para outros jovens com talento.”

Vencedores da menção honrosa na 1ª eliminatória, o grupo de hip hop D.Side Record’s não esperava vir a ser resgatado pela organização do Talentos do Bairro para atuar na final, no Capitólio, no dia 8 de dezembro. O porta-voz do grupo, o cantor Cristiano Azevedo, estava radiante com as possibilidades que se abrem: “Atuar no Capitólio já é muito gratificante. Mas vamos trabalhar para alcançar o pódio, claro”.

Habituados a palcos mais modestos dos bairros de Lisboa, os D.Side Record’s já existem há 12 anos e até têm um estúdio de música que criaram a partir de um quarto adaptado para o efeito, no bairro da Quinta Grande, e que é usado “por muitos artistas que não têm possibilidades”.

O Talentos do Bairro foi o primeiro concurso de grande dimensão em que participaram. Na pré-eliminatória, tal como na final, vão levar a fadista Catarina numa fusão pouco convencional entre o fado e o hip hop. “O que vimos neste concurso é que há muito talento nos bairros”.