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Talentos do Bairro

De finalista a jurado. Don Fran volta ao Capitólio com um novo olhar

Um ano depois de conquistar o pódio na primeira edição do Talentos do Bairro, Francisco Jesus, aka Don Fran, regressa ao concurso num novo papel. Agora jurado, vê o palco a partir de outro ângulo e traz consigo a experiência de quem sabe o que significa lutar por um lugar no Capitólio.


Publicado a 4 de Dezembro de 2025 às 09:43

De finalista a jurado. Don Fran volta ao Capitólio com um novo olhar

A história de Francisco Jesus, conhecido como Don Fran, é um dos exemplos mais claros do impacto do Talentos do Bairro. Um ano depois de ter sido um dos vencedores da primeira edição e de lançar o seu álbum de originais, regressa agora num papel diferente: o de jurado. Em 2025, observa o palco a partir de outro ângulo, consciente do peso que o projeto pode ter para quem, como ele, cresceu a cantar dentro do bairro e encontrou aqui a primeira grande oportunidade.

“Tem sido um desafio muito bom, enriquecedor para mim como artista”, diz. Estar do outro lado ensinou-lhe que avaliar não é apenas escolher os melhores, mas reconhecer a entrega de quem luta por um lugar num concurso em que cada atuação carrega história, nervos e ambição. “É difícil quando há mais que três artistas incríveis e só podemos escolher alguns. Eles também nos desafiam”, explica. O rapper usa a memória da competição como ferramenta: “Posso dar um apoio diferente porque já estive em cima do palco e consigo dar uma perspetiva que só quem passou por isso tem.”

É difícil quando há mais que três artistas incríveis e só podemos escolher alguns. Eles também nos desafiam.

Aceitou o convite sem hesitar. “Senti-me lisonjeado.” Difícil, diz, foi imaginar-se naquele papel apenas um ano depois de ser finalista. No entanto, entrou com a convicção de que podia contribuir para a experiência dos novos concorrentes.

Um júri que também conhece o nervosismo do palco

Entre os participantes desta edição, Francisco reconheceu muitos rostos. Cresceu na Alta de Lisboa e percebeu que vários candidatos se inscreveram inspirados pelos artistas do ano passado: “Mais de metade eu conheço.” Identifica-se com as histórias de persistência: “A parte de não desistirem é o que mais me toca.” E sublinha que muitos finalistas valorizam ter alguém no júri que esteve do outro lado tão recentemente. “Mostra-lhes onde podem chegar.”

Sobre as diferenças entre edições, evita comparações diretas, mas nota um detalhe que o marcou: “Vejo mais talento este ano. Há mais equilíbrio.” Para o júri, esse aumento de nível é um desafio e uma prova de que o projeto está a crescer dentro dos bairros.

A parte de não desistirem é o que mais me toca.

O que procura num artista

Ao avaliar, Francisco procura mais do que técnica. “Procuro diversidade, foco, vontade.” A expressão, a verdade do ato e a capacidade de transformar nervos em presença contam tanto como afinação ou coreografia. “Para mim, a qualidade mais importante é o à-vontade em palco.”

Esse olhar abrange canto, rap, dança, poesia e performance. Mais do que categorias, interessa-lhe a intenção. “Tento descobrir o que aquela voz ou aquele ato está a tentar transmitir.” No fundo, procura autenticidade, o ponto de partida de qualquer carreira artística.

Um conselho para quem chega ao Capitólio

O conselho que Don Fran deixa nasce da própria experiência: “Foquem-se no vosso ato, reinventem-se.” Defende evolução face às eliminatórias. “Transformem o ato em algo incrível, em que possam mostrar todo o vosso talento.” E insiste na importância da entrega total: mostrar quem são é meio caminho andado.

Transformem o ato em algo incrível, em que possam mostrar todo o vosso talento.

Para muitos candidatos, aquela tarde no Capitólio é o primeiro contacto com um palco de grande dimensão. Por isso, reforça: “Se conseguirem transmitir o que têm dentro de vocês da forma mais simples e mais original possível, talvez sejam os vencedores.”

Um percurso que continua a crescer

O papel de jurado também tem influenciado o seu próprio caminho. Don Fran continua a trabalhar o álbum que lançou e admite que esta segunda edição lhe trouxe novas inspirações. “Estou a conhecer artistas incríveis. Gostava de me envolver com alguns deles depois do concurso.”

O momento mais marcante desta edição foi perceber que um dos concorrentes se inscreveu por causa dele. “Disse-me que estava aqui por minha causa. Isso é imensamente gratificante.” Para ele, esta ligação entre gerações reforça o valor do projeto: criar rede, impacto e futuro.

Ele disse-me que estava aqui por minha causa. Isso é imensamente gratificante.

A Gebalis, promotora da iniciativa, afirma que o Talentos do Bairro é um espaço de reconhecimento e autoestima. Para Francisco, isso é evidente. Acredita que esta segunda edição pode ser ainda mais transformadora, abrindo portas a quem sonha mas raramente tem oportunidade: “Espero que esta edição consiga alavancar os artistas ainda mais longe. Muitos só precisam de alguém que lhes dê a mão, que diga ‘eu acredito em ti’.”

O ano passado mostrou-lhe que a visibilidade pode mudar um percurso. Este ano está a provar-lhe que a inspiração também segue o caminho inverso: vem do público, dos bairros e das histórias que sobem ao palco. Está convicto de que muitos dos finalistas de 2025 têm tudo para continuar a crescer e que o Talentos do Bairro continuará a ser, para muitos, o primeiro degrau de algo maior.