Inês Coito, Francisco Jesus (Don Fran) e o grupo Projeto Dança foram os grandes vencedores da primeira edição do Talentos do Bairro, no ano passado, uma iniciativa que não só lhes deu voz como também lhes devolveu uma nova perceção de si próprios e das suas capacidades.
Quando subiram ao palco do Capitólio, em Lisboa, para a grande final do concurso, em dezembro passado, estavam longe de imaginar o impacto que aquela tarde teria nos meses seguintes.
As suas experiências, embora diferentes, têm algo em comum: o reconhecimento público fortaleceu a confiança pessoal e lançou as bases para projetos que até então pareciam distantes. Do fado à dança, passando pelo rap, o talento que emergiu dos bairros mostrou-se autêntico, determinado e pronto a continuar. Cada um à sua maneira, Inês, Francisco e o Projeto Dança continuam a inspirar outros jovens a acreditar que também têm lugar neste palco.
Inês Coito
“Ganhei coragem para acreditar em mim”
A vitória no Talentos do Bairro mudou a forma como Inês se vê, e também como é vista. “Passei a ser olhada com outros olhos”, conta. Deixou de ser apenas “a Inês do bairro” e passou a ser reconhecida como uma artista com futuro. Esse reconhecimento teve um impacto real na sua autoconfiança, que antes hesitava até em inscrever-se no concurso. “Não acreditava que tivesse hipótese. Faltava-me confiança”, recorda.
Desde então, teve convites para representar a Junta de Freguesia de Marvila, cantou em eventos e espectáculos, e passou a ser reconhecida nas ruas por quem a viu ganhar. “Ainda hoje há pessoas que me dizem que representei muito bem o bairro”, diz, agradecida. Embora o entusiasmo inicial tenha abrandado, a vontade de fazer mais cresceu: “Já penso num single, num CD, num projeto sólido que leve o meu nome mais longe”.
À nova geração que agora se prepara para pisar o palco, Inês deixa um conselho simples e direto: “Arrisquem. Acreditem em vocês. Não sabemos quem vai gostar ou não, mas só se nos mostrarmos é que podemos conquistar alguma coisa.”
Projeto Dança
“O nosso bairro sentiu o orgulho connosco”
Para o grupo Projeto Dança, a participação no Talentos do Bairro foi vivida com intensidade e entrega. Sob orientação da professora Ana Rodrigues, os jovens dançarinos passaram por cada etapa com “muita dedicação, entrega e trabalho”. O segundo lugar na grande final foi mais do que um prémio artístico, foi um momento de afirmação comunitária.
“O impacto no bairro e na freguesia foi muito positivo”, conta Ana. Os elogios vieram de todos os lados: da Junta de Freguesia à população local, muitos reconheceram o valor do que foi apresentado em palco. O grupo sentiu esse carinho de forma intensa e orgulhosa.
Apesar de já estarem habituados ao trabalho contínuo ao longo do ano letivo, a participação no concurso trouxe um novo entusiasmo. “Foi uma boa experiência neste formato de concurso”, sublinha a professora, que vê no projeto um espaço para dar visibilidade a jovens talentos que, de outro modo, talvez não subissem a um palco como o do Capitólio.
Para esta segunda edição, o entusiasmo mantém-se. Três alunas do grupo já manifestaram interesse em participar individualmente, prontas a representar o bairro com a mesma paixão e orgulho que marcaram a presença do Projeto Dança no ano passado.
Don Fran
“Vou lançar um álbum de originais em setembro”
Quando conquistou o terceiro lugar na final do Talentos do Bairro, Francisco Jesus sentiu que algo tinha mudado para sempre. O rapper da Alta de Lisboa, que sobe ao palco como Don Fran, encontrou finalmente reconhecimento não só no bairro, mas também no meio musical. “Passei de vizinho a Don Fran, o artista”, resume. O concurso deu-lhe visibilidade, mas também lhe devolveu a crença nos próprios sonhos.
A vitória trouxe novos convites, colaborações e, acima de tudo, uma confiança renovada. “Deu-me força para me focar no que realmente quero”, afirma. O resultado? Um álbum de originais já em produção, com lançamento previsto para setembro de 2025. Um passo gigante que começou com um tema simbólico: Bairro Que Me Gerou, a canção que lhe valeu o lugar no pódio.
Francisco não esquece a importância da comunidade no seu percurso. “O apoio da associação de moradores da Quinta Grande e da Gebalis foi a chave”, diz. E lembra que a sua atuação não foi só sua. Foi também dos amigos que estiveram ao lado, como o guitarrista Loic Antonio e o beatmaker Mysticalbeat71. “Espero que o que fiz sirva de inspiração para que mais pessoas do bairro não desistam dos seus sonhos.”
